Desabafo...(?) Gosto de sinceridade olhos nos olhos . Gosto de frases curtas e objetivas , gosto de saber o que planeja se é que planeja. Depois de toda a tempestade que passei , estou curtindo a brisa , sozinha sentada a beira mar. Eram esses meus planos, viajar para bem longe , esfriar a cabeça e planejar tudo de novo . Um novo futuro, uma nova vida, um novo elenco, novo cenário. A nova vida me espera, mas dessa vez eu vou fazer diferente , um passo de cada vez sem atropelos , sem machucar ninguém e principalmente sem me machucar. Cansei ! Cansei de correr atrás de quem parece desinteressado, cansei de esperar respostas , e-mails sem retorno. Me recuso a colocar um ponto final, já fiz isso e quebrei a cara, mas também lavei minhas mãos, levantei acampamento! Agora sim vou viver INTENSAMENTE, sou intensa em tudo que eu faço, quando quero, quero mesmo e ponto final . Mergulho de cabeça, fantasio coisas, visto meu vestido de Cinderela e fico prontinha esperando o príncipe com seu cavalo branco chegar, as vezes tenho a impressão que nunca vou mudar , nunca vou aprender que a vida não é como no conto de fadas. E que as vezes as histórias nem sempre tem um final feliz . Mas sonhar não custa né? Aprendi que ter pensamentos positivos só fazem bem, atrai boas energias, então vou continuar praticando isso quem sabe o príncipe resolve aparecer de verdade. Bom pra começo de conversa, isso que passamos nem foi uma história, um lance talvez , paixonite nada mais que isso. E mesmo eu sabendo que isso não passaria de uma noite ... joguei alto , pesado , com todas as minhas táticas e armas , e mais uma vez quebrei a cara. Mas eu não me arrependo, consegui o que queria, pelo menos por alguns instantes. Foi bom enquanto durou, não me sinto mal por ter errado, nem me sinto bem por ter ficado, mas logo esse clima de ‘dúvidas’ vai passar. Só tenho a dizer que você não foi 100% para mim, mas se saiu bem na minha rápida avaliação. Os pontos perdidos não foram erros, mas talvez uma desatenção, por não acreditar que por trás daquela cara brava, séria existiu uma pessoa sincera que abriu totalmente o coração e mergulhou de cabeça nessa aventura. Por achar que eu não seria capaz de seguir em frente e lutar pelos meus objetivos. Bom chega de lamentações, a vida continua linda, aí fora prontinha para ser aproveitada sem medos. E agora ela me espera , estou livre , para a vida , livre para novos amores , novas aventuras , novos amigos, novos flertes . Sentirei saudades, muitas saudades, saudades dos planos não concretizados, dos beijos que não recebi, dos minutos guardados, saudades dos olhares. Mas é uma saudade boa, e me fez aprender que eu não devo perder tempo com discussões bobas, que 7 minutos não é nada e que traçar objetivos é o começo! Isso foi um breve desabafo, e não uma despedida como deve estar pensando. Tenho certeza que ainda vamos nos encontrar, e quando isso acontecer, não diga nada, fazemos de conta que nada aconteceu. Quem sabe assim podemos começar de novo, e quem sabe também isso possa ter um final Feliz.
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!
Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Ciúme não é ex.

Sobras de minha existência pela casa, escondidas para não irritar a nova mocinha. Meu pijama sufocado num canto da gaveta para que nenhuma lembrança respire. Meus chinelos abduzidos no meio da "sapataiada", tão pequenos que quase inexistem ou poderiam passar tranqüilamente por pares de criança. Fotos, milhares delas, guardadas sem carinho, uma preguiça triste de arrumá-las em álbuns. Estão lá, paralisadas em momentos felizes, tradutoras de uma vida que quase foi, trancadas porque o que quase foi não pode atrapalhar o que ainda pode ser. Talvez um fio de cabelo, o último deles, esteja nesse momento sendo varrido e levado pelo vento forte e solitário que não deixa dúvidas que o inverno chegou. Inverno que era sempre comemorado porque eu sabia que ele não sentiria tanto calor para dormir e eu poderia ser abraçada de conchinha o tanto que desejasse. Agora é outra que suspira protegida olhando o quadro do Monet e ri apaixonada de algum provável barulho que ele faça com seu nariz estranho, jurando na manhã seguinte que não ronca. Saudade não é ex, tampouco amor. Mas a vida da qual abrimos mão por um sonho (ou por um erro) é passado. E de escolhas e de perdas é feita a nossa história. Não há nada que se possa fazer a não ser carregar por um tempo um peso sufocante de impotência: eu escolhi que aquele fosse o último abraço. Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o quanto aquele abraço é o lado bom da vida. Da vida que te desemprega mesmo depois de tantas noites em claro e de tantos beirutes indigestos. Da vida que te abre uma porta que você jura ser a certa mas quando resolve entrar descobre duas crianças brincando na sala e uma mulher esperando no quarto. Da vida que te confunde tanto que você quer se afastar de tudo para entendê-la de fora. Da vida que te humilha tanto que você quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te emociona tanto que você não quer pensar. Da vida que te dá um tapa na cara pra você acordar e não tem ninguém pra cuidar do machucado e dizer que vai ficar tudo bem. Da vida que te engana. Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê- lo. Se fosse uma comédia-romântica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que não gritavam quando eu acendia a luz do quarto, não faziam uso de um cigarro que me irritava profundamente e sobretudo minha rinite alérgica, não amavam os amigos acima de, não espirravam de uma maneira a deixar um fio de meleca pendurado no nariz, não usavam cueca rosa, não cantavam tão mal e tampouco cismavam de imitar o Led Zeppelin, não tinham a mania de aumentar o rádio quando eu estava falando, não tiravam sarro do bairro em que nasci, não insistiam em classificar minhas mãos e pés como seres de outro planeta, não ligavam se eu confundisse italiano com espanhol e argentino, nomes de capitais, movimentos artísticos, datas de revoluções e nomes de queijo, era ele que eu amava, era ele que eu queria. E ele me diria que, mesmo depois de ter conhecido mulheres que conheciam a Europa e não entupiam o ralo com cabelos, mulheres que tinham nascido em bairros nobres e charmosos de São Paulo, ou melhor, do Rio de Janeiro, mulheres que arrumavam a cama e não demoravam tanto para sentir prazer, não entravam de sapato no carpete, não tinham uma blusa ridícula com uma rajada de dourado, não eram dentuças e tampouco testudas, não cantavam tão mal, não tinham medo de cachorros pequenos, não reclamavam do ar-condicionado e nem tinham medo de perder a mãe ou comer uma comida muito temperada, era eu que ele amava, era eu que ele queria. Mas a realidade é que não gostamos desses tipos de filme fraco com final feliz, gostamos dos europeus "cult" onde na maioria das vezes as pessoas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente

O assassino do amor

Toda aquela coisa complicada e sublime do amor na minha cabeça, e ele vem e me dá um apertão simples e grosseiro. Todos os "porquês" mal respondidos, todas as mágoas ainda latentes, e ele vem e amassa todos os peitos, alisa a barriga toda e espreme toda a cintura. Tanta saudade, tanta tristeza, tanta falta e ele vem e fala baixinho, no meu ouvido, o tanto que precisa, o tanto que quer e o tanto que vai. Eu acabei de sair de uma desilusão amorosa daquelas de ficar de pijama sujo, se achando feia, preguiçosa e burra. De alugar Woody Allen pra sentir que alguém é parceiro das minhas neuroses. De quase me afogar em filmes românticos. De alugar filme americano burro para conseguir dormir pesado. De achar que um dia de Sol é uma afronta. De tirar de ouvido as notas tristes de uma música e depois cantarolar em sinfonias de "ais" doídos acompanhados de choros acústicos. De achar que uma janela, separada do chão por uma certa altura, tem seu sentido. Mas ele não me deixa sofrer em paz, ele não me deixa ser feia, ele não me deixa virar bicho do mato. Ele aparece, sempre cheio das vontades, e me enche de feminilidade, me enche de vontade de ser mulher. E me aperta tanto que quase mata meu antigo amor. Minha cabeça pede tristeza para velar o defunto, minha alma pede silêncio para viver o luto. A mão dele aperta meus ossinhos da bacia, caminha e pede, implora, para que eu facilite um deslocamento para baixo. Ele encontra seu destino e minha cabeça esquece de encontrar o seu. Meu coração bate sem vontade, impulsionado pela força dos suspiros fortes de tristeza. De repente agiliza, atropela, explode. É ele que me surpreende sem dar tempo de deixar para depois, sem dar espaço para a força da reação, sem dar som para a voz fraca da minha impossibilidade. Eu querendo chorar a última piada lembrada, eu querendo doer a última certeza da rejeição, eu querendo passar em claro as últimas sensações de amor zombado e ele, precocemente, me fazendo feliz. Meu desejo morto, assexuado, traído, quer viver de lembranças, dores e palpitações abandonadas. Mas ele, com força, movimentos persistentes e ânsia inexplicável de tantas mãos, me vence, não pelo cansaço, mas por morte: ele enterra o meu eu apaixonado e faz renascer alguém limpa e virgem de defesas. Eu te quero branca e você está negra. Eu te quero inteira e você está esmiuçada em pedaços de amor quebrado. Eu te quero vem, vem, vem e você está tão vai, vai, vai. É o que ele me diz sem dizer, porque ele não diz nada para ter mais tempo de fazer. É o que ele me pede sem pedir, porque se ele pedisse dava tempo de eu fugir. Estou presa pelo prazer dele, estou derrubada pelo peso dele, estou sufocada pelo desejo dele. Não estou em mim e me abasteço de outra vida. Sou sua hospedeira e sugo dele justamente o que ele tem de mais e eu de menos: tesão por mim.

Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja?

Tá em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. É culpa da pressão que eu ponho em tudo isso? É o que dizem: desencana que uma hora ele aparece. O pé cansado já tentou calçar (à força) do chinelão que descola as tiras ao sapatinho de cristal. Nenhum serviu e o coitado tá todo esfolado. Ninguém pra descascar, chupar ou fazer uma laranjada. Em compensação, laranjas na minha vida não faltam. E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo. Fim de ano sem amar é deprê, hein? Tô megera o suficiente pra ver uma família feliz no shopping e pensar que aquela instituição "image bank" não passa de uma união solitária de aparências. Tô megera o suficiente pra furar a fila do Papai Noel e pedir um pirulito, bem grande, bem grosso, bem exclusivamente apaixonado por mim. Tô megera o suficiente pra abraçar os veadinhos do trenó em homenagem aos meus ex-casos. Tô megamegera o suficiente pra não admitir minha carência e dar uma risada debochada de todas as luzes, canções e emoções de boas-festas. Tá, mas no especial do Roberto Carlos não vai dar pra ser megera. O filho da mãe sempre me faz chorar. É impressionante como a gente se sente sozinha na porra do especial do Roberto Carlos. É claro que eu desejo o meu sucesso profissional, dinheiro, saúde, ..., mas nada de atacar para todos os lados nas simpatias deste réveillon. Não dá certo. Este ano vou focar no amor: calcinha vermelha, fitinhas vermelhas e as sete ondas vão ser puladas com a mão no coração (se eu usar a frente-única branca que comprei, é bom que a mão no coração já segura um peito) e uma só intenção: encontrar o danado. Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito (de preferência largo, forte e levemente cabeludo). E nem é medo de ficar pra titia não, além de ter cara de mais nova e ser bem nova, eu sou filha única. É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse". Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero transar com beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo. Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele (brincadeira...). Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre. Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades. Quero que ele me torne uma pessoa melhor, que faça sexo como ninguém, que invente novas posições, que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjôos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. Que a sua remela seja sequinha e não gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo (adoro carecas...). Que suas escatologias não passem de piada e se materializem bem longe de mim. Tem que gostar de crianças, de cachorrinhos, da minha mãe, e tem que odiar ver pessoas procurando comida no lixo. Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocráticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de "essa mulher é única". É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Exigir demais pode fazer eu acabar sozinha em mais shows do Roberto Carlos. Deus me livre! Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver... Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e não pode ter remela gosmenta. Pronto! E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que "aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências" vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor. (post velho bombando..)

Muralha

Essa muralha dura que, com o gosto certo para as palavras e o cheiro certo para a presença, amolece o mais duro gosto pela vida. Ainda que nada que mereça uma racional lista neste momento, é como se faltasse o mais essencial ar puro e quente da minha saúde. O ar certo. E pela incoerência da vida e o delicioso gosto contrário pelo certo, esse ar, que se disfarça em puro, nada mais é que o velho conhecido gosto dos sonhos vermelhos aveludados e perfumados de cabarés imaginados. O gosto pesado de erros soltos, expostos, e mais do que de encontro com o que palpita sem coerência mas soa em perfeição dentro de mim. O ar que bombeia as formigas de uma retardada felicidade levando sensações até para as improváveis pontas do cabelo e unhas do pé. Aquele que arrepia até as peles sem vida das camadas mais próximas à morte. As palavras saem querendo ter sentido, mas a boca se morde tamanha a vontade de abocanhar tanta cerimônia e transformar o peso ereto do humano responsável em instinto animal que corre de quatro e morde sem pedir. Nada que eu não tenha sentido antes, ou escrito, mas mais uma vez, o que pontua minha vida em momentos e me joga para a frente pra cair de cara. Seja para chorar o inferno próximo, seja para me sufocar de você querendo todos os meus ângulos. De energia presa num interesse congelado que grudei nos seus olhos, ainda me pergunto se minha clareza não te cegou. Minha energia em potencial, louca para cair de um longo prédio de andares divertidos e morrer tristemente no vazio de um fim certo para um sonho improvável, está zerada na espera de um estalar de dedos. Estale os dedos e olhe para o chão. Eu estarei ali, arrastada em possibilidades e forte em atração para subir até o andar para o qual você me der asas. Sei, como sempre soube desde que tomei noção de minha existência baseada em vôos com horas marcadas para quedas, que vou me estabacar em pedaços mais uma vez. E sei que os juntarei novamente, me jurando preservação. E, assim que estiver inteira, estarei novamente cheia de vontade de sair dando encontrões com o mundo. Este mundo que insiste em inventar leis, regras, juramentos e instituições. E insiste em perder para seres apaixonados que juram, até para Deus, que nada pode ser mais sagrado do que a fidelidade aos hormônios. Clichês me embrulham mais o estômago que qualquer podridão que meu lado puritano oitenta, irmão gêmeo do meu lado safada oito, tente me jogar na cara. Aqui estou eu aberta até onde se pode rasgar, exposta até onde se pode vender e insinuando até onde se pode explicitar. E ainda que isolada de cúmplices, longe de aplausos e renegada de benção, aqui estou eu novamente servindo com prazer os meus joelhos à divindade do desejo. Se você não puder esperar, será bem-vindo em minha ansiedade. Se você me quiser embaixo de mangas, será bem-vindo em meu masoquismo feminino nada original. Por hora lhe agradeço. Voltaram a gritar os teclados espancados de sentidos para traduzir uma alma que já não cabe mais em seu estado natural. Agradeço-lhe o sorriso estúpido que por mais banal que seja. Nos faz sentir negritados em meio a tantos seres e suas aspirações. Agradeço-lhe a vontade de errar, sem ela minha vida não parece certa.

De pedra

Desse ângulo que estou agora, vejo meu Ipod rosa tocando David Bowie, a pia desmoronando e a tarraxinha do brinco que andava perdida. Está tudo no lugar, está tudo lá, me olhando. É a vida dizendo que faz sentido. Faz sentido a pia descolar depois de um tempo com tanto peso em cima, faz sentido que o aparelho que serve para tocar, toque. Faz sentido que um brinco tenha tarraxinha e faz ainda mais sentido que a tarraxinha, algo tão pequeno, se perca. O telefone não toca e isso é óbvio: eu não tenho telefone. Meu celular não toca e isso é óbvio: ele está desligado. A campainha não toca e isso é absurdamente óbvio: ninguém pode subir aqui sem que eu deixe. Ainda assim, ainda que eu esteja cercada de tantas coisas tão corretas quanto a cama ser algo para deitar, eu me pergunto: por que o mundo é tão estranho? Por que o telefone não toca? Porque eu estou aqui, mais uma vez, deitada na minha cama, achando tudo tão triste e solitário e estranho? Canta David, canta seu louco de pedra. Onde é que está esse filho da puta desse homem que sold the world? Canta. Eu te entendo. Eu sou só uma garotinha careta sem tatuagens e com medo de queijo vencido. Mas eu te entendo. Não faz mesmo sentido essa pia, essa tarraxinha, esse silêncio, essa porra de campainha que ninguém toca. Não faz sentido. Mas essa música não é do Nirvana? Eu te entendo Kurt. Te entendo, cara. Eu não vou pular da janela não. Eu tenho medo de tomar sereno. Mas eu te entendo seu louco de pedra filho da puta. Venha como você é. Venha. Mas ninguém vem. E quando vem, ninguém vem como é. Lá fora todo mundo anda sorrindo e dando opiniões cheias de inteligência sobre o último filme do cinema. Mas ninguém liga pra ninguém e fala: não é louco demais viver em um mundo onde a pia desaba e as tarraxinhas aparecem do nada enquanto o David canta a música que inspirou o Nirvana? Viver é louco demais. Mas ninguém fala isso, ninguém fala. E eu me sinto tão absurdamente sozinha. Sozinha e hipócrita, porque eu também não vou ligar pra ninguém e falar que o mundo é louco demais. Eu vou continuar sendo inteligente em almoços, e criando campanhas bonitas com criancinhas inteligentes, e fazendo comentários inteligentes em jantares e parecendo alguém normal com uma pitadinha de humor britânico. E eu vou continuar absurdamente sozinha aqui, na espera do homem que sold the world. Na espera de comprar o mundo de volta e ordenar que você volte. Volte agora seu louco de pedra.

Vivo ou morto. Meu reino por um homem interessante.

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia. Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar. Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”. Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma. Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora. O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it sounds?” Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos, para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra. Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats… me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a tal da química. Mas então onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,… e eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos? Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito. A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?

Para não sentir dor

Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções. Vou encher minha cara de máscaras para não ser meu lado romântico que tanto precisa de um espaço para existir ridiculamente. Não vou permitir ser ridícula, nem uma lágrima sequer, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, nem uma nota triste no meu ouvido. Eu sei o quanto vai ser cansativo correr da dor, o quanto vai ser falso ignorar ela sentada no meu peito. Mas vou correr até minha última esquina. Vou burlar cada desesperada súplica do meu coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar. Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de não ser nada daquilo que você me fez sentir que eu era. Muita maquiagem para esconder os buracos de solidão. Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho. E por que vendo tanto meu corpo e tão pouco minha alma? Porque quero ver você comprando o que realmente quer e não enganando querer para levar a promoção. Cansei das promessas de compra e das devoluções gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo. Então tá aqui ó: peitinhos, coxas, barriga e o buraco que você tanto quer. Leve de uma vez e me engane por alguns dias. Você é igual a todos os outros e todos os outros são: lixo. O amor não existe, e, se existe, não dura pra sempre. E, se não dura pra sempre, não é amor. E nada dura pra sempre. E então o amor não existe. Estou amarga com simplicidade, e isso é relaxante já que vivo cheia de complicações. A amargura é muito mais simples que a esperança. Estou triste do tamanho do buraco sem vida que você deixou em mim, uma concavidade sonhadora que ainda pulsa um desejo que ao mesmo tempo enoja. Ainda sinto você aqui dentro e toda a energia boa de vida que esta lembrança poderia gerar em mim, mas essa energia sem escape, sem válvula, sem história, essa energia inocentemente transformada em ódio, só carrega ondas que me corroem por dentro. Mas para não sentir dor eu vou jurar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável. O quanto sua molecagem não permitiu nenhuma admiração de minha parte. Para não sofrer não vou permitir minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem cérebro. Não vou permitir admirar coisas da natureza porque talvez eu me lembre de você ao ver algo bonito. Não vou permitir silêncios porque é aí que o meu fundo transborda e a tristeza pode me tomar sem saída. Eu vou continuar deixando a minha cabeça me martelar porque toda essa confusão é ainda menos assustadora do que a calmaria da verdade. A verdade é a frieza do mundo, é a podridão dos desejos, são as mentiras que a gente inventa para os outros e acaba acreditando. A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar.

Muito e porra nenhuma

Eu gosto da sua barriga porque você consegue a santíssima trindade da barriga perfeita: velho, intelectual, sarado. Você tem aquela pele já meio descolada dos ossos e isso me enlouquece. É o vão de quem viveu mais. É o labirinto onde eu fico quando você acha que eu não estou ali. Entre seus ossos e músculos. Você é um preguiçoso, espalhado tão elegantemente com as cuecas largas, em seu sofá com almofadas de mocinha. Absurdamente animado com milhões de coisas maravilhosas que você lê ou escuta pela metade, querendo saber tudo ao mesmo tempo pra esquecer mais rápido e de uma vez. Querendo não saciar das coisas, pra caber mais do resto todo que nunca chega. Você tem a noção mais bonita de insuficiência e exagero que já vi. Você tem o desapego pós empolgação menos levado a sério que já vi. Mas isso tudo é escondido pelos seus olhos de desligamento. É quase desinteressante o seu funcionamento, não fosse tão digno de me emprestar um pouco de umidade pra secura que trago da rua. Você tem todos os gominhos no lugar como se fosse um garoto de academia. Isso me faz rir embaixo do edredom, olhando a tirinha suicida do meu sutiã que se jogou solitária e antes da hora. Você fez a escolha da vida dos homens desgastados e pra dentro, mas é como se os deuses te mandassem, ainda assim, doses diárias de uma beleza que me surpreende a cada vez que tento te transformar em qualquer coisa da minha tarde. Não precisa pente, banho, esteira, sol, peso, gilete. Você acorda naturalmente com a beleza que eu só tenho, ao acordar, se acordar duas horas antes. Eu gosto de você porque são tantos milhões de coisas que você sabe, mas você fritou e não diz nada. Você sabe tanto que tem preguiça. Eu percebi que minha ansiedade é a típica da garota boba que leu nove livros, sabe de sete músicas, viu quatro filmes, conhece dois lugares e acha que ainda ama um homem. Quem sabe mesmo, nem começa a dizer. É tanto que dá preguiça. Seria uma vida a dizer mas você já esqueceu ou dormiu no meio. Você precisa sim da sua biblioteca que dá cinco voltas no teto pra ser amado. Mas precisar disso te enche da vontade deliciosa de deixar o que a gente precisa pra lá. Você faz com você o que faz com todos os livros. Para na metade. Assim sobra tempo de assassinar minha roupa e depois dormir enquanto eu conto os pedaços pela casa. Meus e das minhas histórias. Então eu gosto de você, de novo, porque não falamos nada. Você porque dormiu de novo ou quer demais. Eu porque quero de novo ou dormi demais. Você porque sabe muito. Eu porque não sei porra nenhuma. E o portão enorme de vidro se fecha com você meio curvado, malditas costas. Faz minha vigília até o carro como um pai e isso me dá vontade de voltar. Parece errado, mas pra mim, pros defeitos que me formaram e por isso mesmo é só o que posso sentir quando sinto sem script, sinto que as plantas estão onde deveriam. E meu carro, e tudo. Se encaixa. Eu sou o senhor cabeça de batata esperando seu bigode encaixar em mim pelas mãos das crianças que nunca deixam de brincar com os velhos brinquedos de verdade. De novo, levando a pureza bem a sério pra pelo menos existir um pouquinho em meio a tudo isso. E eu, você não sabe como te agradeço, vou escutar música alta no carro e nem reparar que o sinal abriu.

Uma história interrompida

Interrompida, caiu uma vírgula por aí, minha oração nunca será ouvida. Me perdi no meio dos sentidos. História escrita a lápis, lápis-borracha para tudo ser mais prático. Escrita de qualquer jeito, torta, em linhas invisíveis. Com um início de perder o fôlego, mas com um eterno três pontinhos num final que nem existe. Os três pontinhos são o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da história, três pontinhos são o que me matam. Uma história pra adultos, escrita por crianças. Você sem saber viver de tantas vidas por aí, eu sem conseguir viver porque virei sua hospedeira. Quis sugar sua vida perdida, e me perdi. Incapaz de me sentir por medo de ser inteira, saio sentindo e sendo os outros. Quis ser você inteiro, morar aí dentro, bombear e mandar nas suas veias. Mas você é tão livre, tão acima do chão. Tão acima de minha cabeça. Da minha cabeça que está aos seus pés. Sinto o arrepio frio nas costas da bandeja de vidro que eu trouxe pra você. Nela estou deitada, entregue. Mas tudo isso pode se quebrar a qualquer momento. A reconstrução eterna dos meus sonhos que já nascem fragmentados para que eu possa engolir tudo aos poucos. Mas de nada adianta, estou eu aqui de novo, mas mais uma vez tão única e surpresa, engasgada até onde se pode sentir falta de ar. Engasgada de você ir embora, engasgada de você voltar. Engasgada de você sempre sorrir. Você não passou pelos meus buracos e eu não consegui te entender no quentinho seguro do meu ventre. Você travou todas as minhas entradas, você me incha por dentro e eu nem sei se vale a pena explodir porque você é surdo e cego. De que vale eu deixar de existir se você não me percebe? Sigo inchada, sigo cheia de coisas para cuspir em você, sigo pontuada por esses batimentos cardíacos que descem quando te vejo. Poesia sem rima porque não somos bregas e a vida sem sentidos e sem encaixe é a loucura que une nossas doenças. Estrofes com métrica, porque sabemos exatamente o que queremos, apenas não rimamos para que não exista cumplicidade. Uma história começada como a necessidade obscena e idiota de coçar o saco. E terminada pela saciedade obscena e idiota de o saco já ter sido coçado. Tudo tão simples como expelir algo fisiológico. E eu me sentindo uma merda mesmo. Ditado de três palavras para você: gostosa, fácil, comer. Narração de sujeito oculto para mim: meus sentimentos escondidos até o fim. Uma redação com margem, tamanho e estilo impostos para você. Um diário sem limites para mim. E você continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo você levar partes de mim que antes eu nem sentia falta. E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher você de alguma maneira. Pra tentar deixar tangível a sua existência. E principalmente pra poder amassar o papel e jogar no lixo.

A estranha

A estranha agora deu de não comer. Sou eu que perco peso, bunda, peito e buchecha. A estranha dá de chorar de bobeira e eu pago o mico. A estranha se descontrola: ora fala demais sem nenhum argumento, ora emudece um turbilhão de idéias. Quero acordar cedo, quero praticar um exercício, quero tomar café sem pressa. A estranha só quer saber de sonhar, dorme até tarde. Dorme pesado de peso de amar. Amar dá sono porque gasta os sentidos. A estranha quer me atrapalhar, não quer que eu escreva esse texto e eu acabo escrevendo tudo truncado e bobo. Ela só quer que eu sinta, que eu pense, que eu respire, que eu disque aqueles números mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez. Ei safada, saia de dentro de mim, preciso trabalhar, preciso respirar, preciso comer, preciso levar minha vida. Minha vida, entendeu? Quem te colocou aí, vagabunda? Quem disse que você manda em mim? A estranha é tão forte, tão grande, tão cheia de bocas, dentes, buracos quentes. A estranha vive para devorá-lo. Eu sou fraca e tenho a nítida e desesperadora sensação de ser mera platéia de missa: estou de joelhos. Que graça foi ver nesse homem, estranha filha da puta? Meu corpo te rejeita tanto que é quase um câncer sentir tudo isso. Meu corpo já se alimenta de você, digerindo aos poucos essa loucura para desmistificá-la. O mais estranho da estranha é essa felicidade plena em que vivo. Esse estado de graça. A estranha encheu meu estômago de borboletas coloridas. Encheu de suspiros a minha alma. Me encheu de rendição. É uma dessas alegrias de dar pulinhos e de murmurar alegria no semblante mais sério. É uma dessas alegrias tão abençoadas por Deus que Ele é quase cúmplice de esporádicas baixarias e mentiras. É uma dessas alegrias desconfortáveis mas que tem cara de cama quente e travesseiro fofo. Estranha, pra que tanto se depois acaba, mais uma vez, como tudo? Ela nem me liga, ela dança linda e vermelha no meu tórax. Eu perco o ar, esbugalho os olhos. Ela nem me liga, formigando cada parte do meu corpo, transformando meu desenho em pontilhado. Depois me instiga a chamá-lo para que forme minha imagem, me faça existir. Não sou uma massa desfigurada, vaca estranha! Sou uma mulher inteira, charmosa, inteligente, sarcástica, irônica e segura. Eu arraso corações! Não preciso de ninguém! Saia daqui! Ela apenas me sorri irônica e por piedade aquieta-se alguns segundos. Depois, eu mesma não agüento e a procuro: estranha por estranha, negar uma paixão é muito mais louco do que aceitá-la dentro da gente.

O excesso da falta

Foco no lugar vazio da mesa. A pessoa que não veio. Pior ainda: a que não existe. É ali que fico, sempre, apaixonada, doendo, esperando. O lugar vazio da mesa, da cama, do planeta. Minha sorte é um bilhete desses de raspar só que o segredo não sai com nada. Meu amor é a cadeira com pé quebrado que tiraram do salão antes que alguém se machucasse. Então me recuso a sentar em outras e vivo entre o cansaço e o medo de cair de mim mesma. Eu funciono assim, não sei se você já percebeu. Consigo não te amar, e isso significa passar ótimos dias em paz, quando te trato bem, quando te amo. O que sobra em mim, o que eu guardo no peito, é sempre o negativo do que expeli para o mundo. Por isso o e-mail, carinhoso, um jeito de te expulsar mais uma vez, porque é só isso que sei fazer quando o assunto é sentir além de mim. E quando te trato mal, são dias te amando aqui, nos espaços vazios que você jamais preencheria e que são absolutamente você. O mundo todo que não tem você é ainda mais você. E assim me relaciono. Com o risco de giz branco em torno do corpo que já foi levado do chão. Sempre me apaixono depois que acaba a paixão. Sempre namoro quando acaba o namoro. Só assim sei amar. E então te carrego no peito e em tudo, ao ir sozinha ou mal acompanhada ao cinema. E então janto com você e como bem e até bebo. E passamos sem perceber uma vida inteira. Só porque agora você se foi, é que sinto que você chegou de verdade. E assim namoramos tão bem e sou tão agradável. E é com você que vou até a esquina e o fim do mundo, porque posso tudo agora. Agora que não posso nada. Daqui vejo milhares de pessoas e boas intenções e motivos pra ser feliz. Mas onde eu estou? Adivinhe? Estou em casa, sozinha, como se não houvesse nada. Como se tudo isso fosse cruel justamente por ser bom. O bom acaba. Mas isso aqui, o refúgio da ansiedade e da alegria, essas duas coisas do demônio, isso aqui é verdadeiro e é daqui que estou, na verdade, no meio de todas essas pessoas boas e os motivos pra ser feliz. É só daqui. Então, quero ir embora. Ir embora pra chegar logo. Porque enquanto estou é insuportável, mas depois, quieta, deitada, o mundo inteiro se encaixa aos poucos até eu pegar no sono e sentir a matéria de estar viva. Não evaporo mais pois estou me apertando até ficar quieta nessa caixinha minúscula que trago tão bem guardada apesar do desespero em ser aberta. É sempre na falta que vivo. É sempre em cima da altura que não tenho que olho o mundo. E das coisas que eu não sei que falo melhor. E dos sentimentos que eu não poderia sentir que me abasteço pra ser alguma coisa além do que me faz mais uma. E da incapacidade de ser mais uma que me agarro, pra poder participar de algo e esquecer como é maluco tudo isso. É na alegria extremada que sinto o tamanho do sofrimento que posso aturar. É a loucura que sai antes quando preciso rapidamente ser normal. É porrada que dou quando a mão vai rápida para um carinho urgente. É de onde não se pode estar que tenho saudades. É para o lugar do qual fugi que vou quando corro. É no lugar insuportável que fico quando descanso de algo que não aguentei. É na falta que vivo. O tempo todo sendo a mulher pra você que nem você quer. O tempo todo sendo a mulher que você não vê mais e só por isso, agora, te vejo o tempo todo. É te amando tão infinitamente que me liberto de gostar pelo menos um pouco de você. Quando preciso de açúcar sinto ânsia só de ver doce. E na hora de ir embora, ganho o viço e a frescura de algo novo. Não lido bem com a fome, pois ela me sacia, me enche, de algo que me faz além do bicho. É do meu auge que caio feio. Na paz de fechar um arquivo que volto a pensar na página em branco e em tudo que não sou capaz. No fundo do gostosinho da alma mora o que dispara meu incômodo mais terrível. Quando tento ser homem, meu Deus, sou mais garota do que aquelas colegiais cheirando a floral com bola de basquete. Você reclamava que eu não dizia seu nome e isso era só porque eu o estava dizendo o tempo todo. Meu cérebro martelava o som das suas referências e imprimia tanto você que eu precisava falar de mim daquele jeito pra tentar existir além do que eu me tornava. Você era tudo quando reclamava que eu andava estranha ao telefone, sem dar importância. Quando eu não parecia te ouvir, eu estava ouvindo suas milhares de vozes e tentando dar conta de gostar de tanta gente diferente que era gostar de você. Mas agora, assim, dizendo João, eu consigo continuar. Mas não uso a palavra anular porque seria dar rabisco aberto para as asas que não quero desenhar. O tempo todo o abismo gigantesco quanto mais desço. O tempo todo a calma mais incrível nos momentos de real desespero. E o pânico do que é simples de resolver. E se não tem ninguém pra chegar é aí que verdadeiramente espero. E se não tem ninguém pra me tocar, sinto tesão em encostar no ar. Você não está e me olha como nunca. Você merecia ser amado assim, do jeito que acaba pra começar. Uma covardia só pra quem aguenta firme. Sempre no oco me preencho tanto que explodo. É no nada que está tudo aqui. E quando me perguntam de onde vem essa pressa, esse desespero, essa corrida, o sopro no coração, essa ânsia, a força, essa agressividade. De onde vem? Eu digo que vem de uma preguiça enorme. E tantas artimanhas e rezas bravas para permanecer? É só o mais completo desejo em acabar logo com tudo isso. Que tanto eu quero porque estou sempre pedindo socorro? Nada. E principalmente: nunca. E morrer de novo como faço todas as vezes que me sinto viva demais. E vai começar tudo de novo só porque acabou. Ponto final é tanta continuação que vira três pontos finais. Eu não aguento mais e nem toquei na vida ainda. Consigo ser vista de verdade só quando as pernas e todo o resto que me move imploram para eu desaparecer.

(...)Não é que eu esteja procurando o infinito,a sorte pra andar comigo.Se a fé remove até montanhas,o desejo é o que torna o irreal possível(...)

Out of Reach

O controle de um relacionamento está sempre nas mãos de quem menos se importa:E isso é verdade!

"Eu avisei a todas elas,desde o início.Sempre disse frases como:"Tenho que lhe avisar,tenho um carimbo invisível que diz 'cuidado'.Não quero compromisso,nunca me casarei".Apesar dos esforços,estou sentindo pequenas rachaduras na minha capa de proteção.Quando reavalio minha pequena vida e todas as mulheres que conheci,não consigo evitar de pensar em tudo que elas fizeram por mim,e no pouco que eu fiz por elas.Como elas cuidaram de mim,se preocuparam comigo e em troca,nunca retribuí o favor.É,costumava achar que era eu quem me saia melhor no acordo.O que ganhei?Sério.Tenho algum dinheiro no bolso.Umas roupas legais.Um carro maneiro à disposição e sou solteiro.É,sem compromisso,livre como um pássaro,não dependo de ninguém,ninguém depende de mim.A vida é totalmente minha!Mais não tenho paz interior,e,se você não tem isso,não tem nada.Certo:Qual é a resposta?É o que vivo me perguntando.O que é o mais importante?" (Alfie-O sedutor) ...Entende o que quero dizer??